Economia da felicidade: rumo a uma nova medição da prosperidade das nações

Os fatores que suscitam uma sensação de felicidade nas pessoas são usualmente associados a debates e pesquisas no campo da filosofia, psicologia ou sociologia. A economia, contrariamente, direcionaria seu olhar a dimensões mais materiais, como nível e crescimento do PIB, distribuição de renda, eficiência na alocação de recursos etc. Essa dicotomia não parece totalmente precisa.

Menções à felicidade como um dos objetivos da economia já faziam parte das reflexões dos primeiros economistas, como Adam Smith e Thomas Malthus. Essas primeiras menções adquirem preeminência na escola utilitarista inglesa, cujos maiores expoentes são Jeremy Bentham e John Stuart Mill. A procura do prazer como “princípio moral” (Bentham) foi incorporada pelo modelo econômico standard, que assumia um indivíduo consumista-hedonista como categoria fundamental para explicar parte do funcionamento das modernas economias de mercado. Adotar essa categoria analítica redunda em uma associação direta entre PIB per capita e bem estar. A partir dos anos 1970 este amálgama tem sido gradativamente questionado.

Pesquisas empíricas indicam que a aderência entre a evolução da renda pessoal e a sensação de felicidade não existe ou não é tão direta como o imaginário popular supõe. No lugar de abandonar o tema, os economistas passaram a dedicar maiores esforços para compreender a origem desse aparente paradoxo. Por que maior renda não redunda em maior bem-estar? Que variáveis econômicas e não econômicas alimentam as autodeclarações de satisfação com a vida? A inflação, o desemprego? A família, os filhos? O meio ambiente? O sistema político? Qual seria a real racionalidade dos indivíduos? Tentar responder a esse amplo leque de perguntas foi o desafio assumido por um conjunto de economistas que deu origem a uma vasta literatura acadêmica. O objetivo deste livro é apresentar essa literatura, suas categorias teóricas, avaliar seus avanços/fragilidades e vislumbrar em que medida poderá alimentar a formulação de políticas.Segundo o Relatório Mundial da Felicidade (ONU), os habitantes da Costa Rica apresentam um índice de felicidade muito superior ao dos cidadãos do Japão.

A pergunta é natural: Como pode a população de um país de renda média (Costa Rica) se autodeclarar mais feliz que um dos povos de maior PIB per capita do mundo (Japão)? Não seria uma incongruência (paradoxo) a dissociação entre renda e percepção de felicidade? Os economistas direcionaram enormes esforços em tentar compreender essa aparente desconexão. Se o PIB não tem um reflexo positivo nas autodeclarações de bem-estar, para que dedicar tantos esforços em elevar a renda? Faz sentido comprometer o estoque de recursos naturais, poluir o meio ambiente, destruir patrimônios culturais e naturais em prol de um indicador de duvidosa correlação com a sensação de bem-estar das populações? Que variáveis estão na origem dos indicadores de felicidade? Aliás, a felicidade pode ser mesurada através de um parâmetro? Por que a renda guarda pouca associação com o bem-estar? Que fatores podem alimentar a satisfação com a vida? O sistema político? A família? As relações sociais?

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